Chico Buarque de Hollanda é conhecido
por suas belíssimas composições e também se tornou um dos expoentes da Música
Popular Brasileira, mas, além de compor músicas, Chico escreveu livros, que lhe
renderam alguns prêmios, e peças teatrais. Ademais, durante os anos de chumbo
no Brasil, ele foi constantemente perseguido e ameaçado pelo regime militar, dessa
forma se auto-exilou na Itália no ano de 1969.
Várias formas de arte, que criticavam a
realidade da época, foram proibidas durante a ditadura militar. Chico Buarque
teve muitas canções censuradas, tendo em conta que as suas composições faziam
alusões à falta de liberdade de expressão e outros problemas enfrentados
naquele momento histórico. No período em que a censura perdurou, Chico foi o
compositor e cantor que mais teve letras censuradas. Os problemas dele com a
censura iniciaram em 1966 quando a música “Tamandaré” foi proibida por conter
frases ofensivas ao patrono da marinha.
“Apesar de Você” foi uma brilhante
composição do Chico e, a meu ver, uma das músicas mais gostosas de ouvir, é a
legítima música feita para cantar, com emoção, do início ao fim. A sua letra ácida
retrata a realidade brasileira durante o regime militar. Quando foi lançada,
primeiramente em 1970, logo foi censurada pelo governo do general Emílio
Garrastazu Médici e foi liberada somente oito anos mais tarde.
A música “Cálice” foi censurada antes
mesmo de ser lançada, uma vez que todas as letras, livros, textos, entre outras
produções da época, eram obrigadas a passar pela censura federal. Esta composição,
que foi realizada em parceria com Gilberto Gil, apenas pode ser propalada em
1978. “Cálice” fazia uma alusão à censura do regime por meio da sua semelhante sonoridade
com a expressão “cale-se”.
Francisco Buarque de Hollanda estava
cansado de ser o alvo preferido do regime militar, então criou o pseudônimo
Julinho da Adelaide e compôs três canções, porque, usando desse heterônimo, a
censura, sem perceber as críticas inteligentes, deixou passar todas as suas
letras, sendo estas “Jorge Maravilha”, “Milagre Brasileiro” e “Acorda Amor”.
Uma canção que não foi censurada, mas
merece destaque é “Meu Caro Amigo”. Foi uma carta musicada feita em homenagem ao
dramaturgo Augusto Boal, que era um grande amigo do Chico. Foi composta
juntamente com Francis Hime e lançada em 1976, foi uma espécie de desabafo, de
ambos, acerca da situação do Brasil nos anos de chumbo.
Outras músicas e, também, peças
teatrais compostas, na época, por Chico Buarque foram censuradas, quando não
eram proibidas completamente, havia censuras em partes, frases, palavras. O
regime militar tentava de todas as formas mutilar a liberdade artística e até
mesmo acabar com independência dos “pensares” e “quereres” do povo brasileiro –
não adentrando no assunto “ditadura
militar” (com letras minúsculas), porque não foi apenas “mutilar a liberdade e
independência do povo”, uma vez que também mutilaram o respeito físico e
emocional das pessoas que lutavam contra o sistema daquele tempo.
E o final? Todos já sabem. E o Chico?
Coitadinho do Chico, ele foi o queridinho dos anos de chumbo.